No turbilhão de uma crise pandêmica e econômica sem
precedentes na história do capitalismo mundial, eis que me surge à oportunidade
de resenhar um dos álbuns mais sinceros, puros e verdadeiros do heavy metal
nacional, já que Consumed by Biomechanics, lançado em 2020 e distribuído pelo
selo e distribuidora Extreme Sound Records, da banda Crashkill de Fortaleza
(CE), torna-se uma notícia positiva e de esperança numa conjuntura tão adversa
e tensa.
Essa banda nordestina, fabulosa e matadora, chamada
Crashkill, é composta por cinco headbangers que não aliviam no quesito peso,
criatividade e originalidade nas composições, com um thrash metal pesadíssimo,
que resvala em todas as variantes sonoras do gênero, mesclando influências
antigas e novas, se aproximando em alguns momentos no death metal e com uma visceralidade
que há muito tempo não ouvia.
A banda Crashkill não perde tempo, já que Consumed by
Biomechanics, além de muito bem gravado soa como uma espécie de primeiro álbum
com um toque garagem e underground muito característico e que dá uma identidade
única e cativante, com uma pegada rasgada e rápida onde talvez alguns e
pequenos ajustes técnicos no timbre da bateria fossem necessários, mas não
necessariamente sim, porque na minha humilde opinião é assim que ele deve soar,
como se fosse gravado ao vivo, sem edições.
Para corroborar o que analiso a cozinha da banda não
poderia ser mais do que perfeita, com Buson “Drummer” na bateria, com uma
pegada forte e sincronizada, uma britadeira em várias passagens, nos mostrando
toda sua capacidade e técnica pra lá de sensacionais, no baixo a densidade,
peso e cadência soando sempre na medida certa de Fernando Gonçalves,
demonstrando toda sua virtuosidade e competência, na dupla de guitarristas, temos
dois músicos criativos e energicamente intensos na elaboração de memoráveis
sonoridades, mesclando agressividade, peso e ousadia nos riffs e solos, em
incorporar influências marcantes em diversas passagens que vão de Testament a
Nuclear Assault, onde Jean Pinheiro e Valter “DoomRiff” se destacam por conta
de toda intensidade e capacidades técnicas inquestionáveis, fechando esse
quinteto com o vocal de Renato Ferreira que demonstra toda uma força, uma
guturalidade arrasadora, persistente e penetrante, incorporando-se ao som da
banda de forma única e matadora, resgatando um timbre de vocal que denota
influências que vão de U.D.O., Exodus e Kreator, com uma característica e
identidade própria, tornando o som geral do Crashkill uma das grandes promessas
do metal nacional.
A faixa de abertura “Disconnect: Humanity” traz uma
sonoridade bacana, diferente, misteriosa, com ruídos que lembram filmes de
ficção científica, com sons de robôs, humanos, tiros, bombas, metralhadoras,
gritos, talvez naves, um misto de que algo terrível e destruidor está
acontecendo, a faixa é uma abertura longa que foge um pouco ao padrão,
demonstrando uma mensagem subliminar interessante que a banda quer passar, o
mistério já será resolvido em breve.
Em “Chaos Was Created” inicia-se com uma batida crua,
acompanhada do baixo intenso e a entrada das guitarras com seus riffs afinados
e pesadíssimos, entrando o vocal, mesclando rapidez e cadência, harmonicamente
e melodicamente uma faixa destaque do álbum, com um ritmo que já demonstra a
destruição e a resolução do mistério, o Crashkill não está pra brincadeira, é
uma pancada na orelha.
Sem respirar, muito eis que vem “Artificial
Intelligence”, faixa criativa, cativante, com uma pegada pra balançar a cabeça
e dar pulos, guitarras e vocais com passagens pausadas às vezes, depois
retomando com agressividade, sabendo dosar e mesclar variantes sonoras
simultaneamente e com mudanças rítmicas certeiras, envolvendo quem escuta com
atenção, faixa importante do álbum, demonstra toda seriedade da banda.
Sem perder nosso tempo, vem à rápida e matadora “Digital
Conflict”, lembrando boas influências de Nuclear Assault e outras variantes do
estilo, a cozinha da banda arrasa nessa música, destaque para o vocal, ríspido,
direto, gutural na medida certa de Renato Ferreira, a bateria parece demonstrar
o peso do fim do mundo, as guitarras radicalizam na ferocidade, com o baixo
inteligente e certeiro, faixa bacana demais.
Depois temos a sensacional “Consumed By Biomechanics”,
faixa que gruda na mente, penetra na alma e arrepia os pelos dos braços,
dosagem certa da bateria, com baixo, guitarras e vocal, um duelo de
instrumentos que parecem que querem mostrar a paulada que virá na sequência, e
não demora muito, porque faixa dosa com precisão a cadência, o peso e a velocidade
como nunca. Faixa muito inteligente, criativa e forte, um dos destaques que faz
jus ao nome do título do álbum.
A divertida “This Is Crashkill” merece atenção, faixa que
se inicia como despretensiosa, de repente mais um mistério é revelado, uma constelação
de bateria, guitarras e a guturalidade do vocal anunciando o caos vindouro,
precisa de fôlego, respira fundo, “This Is Crashkill” não é para os fracos é
arrasadora.
Em “Year Of DarKness” uma avalanche se apresenta, riffs
poderosos, a bateria é o destaque, um trator em todos os quesitos, aliado ao
baixo poderoso que se apresenta nos momentos certos com uma intensidade
marcante, faixa incrível.
Na faixa “Modern
Genocide”, nos remete um pouco a lembrança sonora da faixa de introdução
“Disconnect: Humanity” no segundos iniciais, com uma sonoridade robótica,
demonstrando aquele mistério do que irá vir, e eis que vem a tijolada na
orelha, onde o baixo se destaca com os riffs e solos inteligentes e
sincronizados na medida exata da harmonia e do ritmo, com a bateria dando
sequência, com paradas e retornos cada vez mais pesados, voltando a uma
velocidade descomunal, faixa muito interessante.
Concluímos com a pesadíssima e arrasadora “Killing
Peace”, que dispensa maiores comentários, faixa que premia o álbum no geral,
dando uma síntese geral deste petardo.
O álbum “Consumed
By Biomechanics” merece na minha avaliação uma nota 10,0 por sua originalidade,
criatividade, identidade, peso e ousadia, demonstrando que é sim uma das
grandes promessas do metal nacional e dando a letra de como tem que soar, ou
seja, moderno e underground ao mesmo tempo, pesado e verdadeiro, sincero e
brutal.
Crashkill – Consumed By Biomechanics
Data de lançamento: 03 de abril de 2020
Gravadora: Independente
Data de lançamento: 03 de abril de 2020
Gravadora: Independente
Faixas:
1 – Disconnect: Humanity
2 – Chaos Was Created
3 – Artificial
Intelligence
4 – Digital Conflict
5 – Consumed by
Biomechanics
6 – This Is Crashkill
7 – Year of Darkness
8 – Modern Genocide
9 – Killing Peace
(Remastered)
Membros da Banda:
Renato Ferreira (vocal)
Jean Pinheiro (guitarra)
Valter “DoomRiff”
(guitarra)
Buson “Drummer”
(bateria)
Fernando Gonçalves
(baixo)
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